reflexões do Reino

Decepcionada com Deus

Decepcionado com Deus é o livro do Philip Yancey que mais me chamou a atenção pela capa. Ainda me lembro quando vi o nome: achei ousado e provocativo. Li, e, embora não esteja entre os meus favoritos dele, me trouxe certamente reflexões super úteis e pela primeira vez me veio essa quase permissão de reconhecer que eu também já tinha me decepcionado com Deus algumas vezes.

Hoje quero contar para vocês sobre a vez que mais resultou em aprendizados para mim.

Há uns bons anos eu fiquei sabendo que um pastor que eu conhecia (desde criança!) estava se divorciando após a esposa ter descoberto que ele tinha um “caso” com alguém. O “caso” dele já estava acontecendo há muitos anos – ele tinha praticamente uma segunda esposa.
Quem me contou foi alguém da família, uma ou duas semanas depois de termos almoçado juntos – ele e a família dele, eu e a minha.
Eu fiquei completamente enraivecida com a notícia. Primeiro, triste pela família dele. E com uma tremenda raiva daquele ser que se dizia “homem de Deus”, que se assentou à mesa comigo, almoçando, fazendo planos em família, enquanto ele levava uma vida dupla. Fiquei com raiva dele. E me vi, para a minha surpresa, decepcionada com Deus: afinal, Ele sabia de tudo. Como Ele permitiu que uma pessoa dessa tivesse entrelaçado sua imagem à imagem do Eterno? Como??

Aquele foi o pontapé para uma nova porta, um novo caminho em minha mente.
Por causa daquilo eu recebi um grande aprendizado: a importância de disassociar o meu relacionamento com Deus com outras relações e conexões.
O resumo da ópera seria: minha relação com a igreja ou com alguém não pode se cruzar ou estar no caminho da minha conexão com Deus.

Como assim?

Claro que temos pessoas de referência em nossa vida (acadêmica, social, religiosa, na carreira, etc.). Mas, se essas pessoas repentinamente mudam sua opinião ou trazem ideias completamente novas, eu preciso ter a clareza de dissociar minha admiração pela pessoa da minha concordância com um determinado assunto. Admiro e consumo o conteúdo do jornalista e escritor Malcolm Gladwell, mas isso não quer dizer que sigo cegamente tudo o que ele me apresentar. Ou, por exemplo, se amanhã a Lori Gottlieb (psicóloga que acompanho), o astrofísico Neil deGrasse Tyson (que também acompanho) ou o pr Craig (de quem ouço as mensagens quase que semanalmente) trouxerem uma ideologia ou conceito novo ou forem “desmascarados” como impostores eu não vou repentinamente repensar minha visão da psicologia, astrofísica ou da religião.

Esses caminhos, essas relações, serão mais saudáveis se seguirem em paralelo ao invés de serem entrelaçados. Vou à igreja, mas o que me faz acreditar em Deus ou influencia a minha visão de mundo não é o que consumo lá 1X por semana, mas o que acontece aqui na minha casa, quando oro, quando leio a Bíblia, quando reflito, estudo e falo com Deus. Se não for assim, estou fadada a ter uma fila interminável de decepções com Deus, já que invariavelmente pessoas, coisas e instituições irão falhar comigo – e se elas estão como colunas dentro de mim, tudo o mais vai desabar, assim que elas ruirem também.

(Neste momento eu gostaria de estar falando com vocês pessoalmente e poder fazer uma pausa e perguntar: faz sentido?)

Se você de maneira intencional segue esta direção, vai perceber que não faz sentido pensar coisas como Deus quis assim quando você vê uma grande tragédia por exemplo. Ou, se caso você está numa comunidade religiosa e alguém te decepciona, sua crença como um todo não será abalada, pois ela não está ligada a um relacionamento ou à uma figura específica. E isso, meus amigos, faz uma diferença enorme. Mesmo.

Dá para continuar falando sobre isso por muito tempo, mas o post já está grandinho e vou parando por aqui. Espero que a reflexão de hoje tenha sido proveitosa!

Um abraço!
Rúbia

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