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Onde bateu a luz – Philip Yancey

Depois de alguns meses sem potar nada por aqui, volto para compartilhar minhas impressões e, curiosamente, falo de um autor que também esteve presente em minha última postagem – Philip Yancey.

A primeira vez que ouvi falar sobre ele foi quando, eu uma livraria cristã, pedi uma indicação de um livro que o dono da loja tivesse lido e achado extraordinário. Foi quando ele, sem titubear, me indicou “Maravilhosa Graça”, um livro que me tocou tão profundamente que foi o meu presente de natal para vários amigos naquele ano.
Continuei lendo outros livros dele, e quando soube de sua biografia, fiquei imediatamente interessada. Hoje terminei a leitura e decidi vir aqui falar um pouco sobre o que li e senti.

O livro é, sem dúvidas, duro, difícil e, eu ouso dizer, um pouco pesado. Ele não poupa ao falar sobre sua vida e dificuldades crescendo em um contexto religioso extremista, racista e com uma mãe de certa forma hipócrita e cruel. Várias vezes eu me surpreendi com a sua coragem, como autor, de falar tantas coisas de uma forma tão crua. Ele não poupa sua mãe, seu irmã e nem a ele mesmo, para ser sincera. Esta foi, definitivamente, uma das biografias mais escancaradas que já li.
Yancey perde o seu pai quando ele ainda era um menino, e descobre o real contexto de sua morte quando ele era um adolescente, no meio de uma conversa aparentemente inofensiva com sua família. E este se torna mais um dos pontos de virada em sua vida já um tanto caótica.

Ao ler a sua história, o sentimento é que seu livro é uma espécie de tentativa interior de encontrar paz, fazer sentido ou entender o mundo de emoções que foi a sua vida. Sinto falta de ouvir mais sobre sua vida como escritor, sua família, quem ele é à parte do que ele se tornou por conta dos anos conturbados de sua infância e juventude.
Como alguém que cresceu num ambiente conservador, complexo, onde a religião tomou uma parte enorme de quase todo o cenário, reconheço, estranhamente, muitas das cenas, histórias e sentimentos. E é esquisito como uma mulher nascida no fim dos anos oitenta em um país tropical pode ter tantos pontos em comum com um homem branco, hoje na faixa dos seus setenta anos, nascido no sul racista dos Estados Unidos.

Em vários momentos questiono a validade e a clareza de detalhes das memórias antigas, me perguntando até que ponto aquilo era real ou fantasioso. Em alguns momentos ele menciona o ato de escrever um diálogo enquanto estava ao telefone, para não perder as palavras ditas. Em outros, ele conta sobre como ele e seu irmão conversaram sobre suas próprias memórias e versões distintas de um mesmo episódio.

Em seu livro, ele fala de maneira sincera de suas dores, de uma vida que ele escondeu e de como ele presenciou duas versões de uma mulher que era respeitada e admirada na igreja, ao mesmo tempo em que era cruel e não oferecia amor e compreensão em casa.

Que livro difícil e que, ao mesmo tempo, carregou tantas reflexões. Para mim, a maior delas, a dor de deixar para depois o perdão – oferecido ou recebido. O peso de uma vida baseada no ‘o que os outros podem pensar’ e o quanto é difícil seguir enquanto não se joga de lado a montanha de crenças que querem que a gente carregue.

Usando a metáfora do bom samaritano, talvez esse seja um livro mais sobre o homem à beira do caminho do que o bom samaritano em si. Sobre como ele vê o mundo à medida em que o sacerdote e o levita viram as costas para o seu sofrimento e qual é o sentimento ao ser carregado em segurança por um pária da sociedade (a quem nós hoje refereimos como ‘o bom’ samaritano).

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